EU TAMBÉM QUERO BANHAR – Jorge Bastiani

Era uma vez um riacho que nascia em algum lugar e saía serpenteando sobre areias, entre árvores e pedras até desembocar sadio no Rio Itapecuru. Em épocas de inverno forte, ele era mais uma atração. Sua força era de grande rio: agigantava-se sobre suas margens como se quisesse banhar tudo ao seu redor!
Era uma vez um riacho que encantava pessoas, que contava histórias de uma cidade limpa e sadia que ia ao seu encontro para se purificar, para deixar-se encantar com a sua brancura, para expor-se ao sol, pois sabia que seriam saciados sua sede e calor com suas águas tropicais.
Do seu nascimento até sua embocadura tem vários batismos em diversas piscinas que forma em seu curso: Inhamun, Tintor, Roncador, Bacia… mas é mais conhecido como o Riacho do Ponte: nome que leva em homenagem aos bairro banhado por ele. É também no Ponte onde sua história tem Lembranças gloriosas de um tempo que o presente parece ter esquecido.
Todos os dias eram sempre iguais para os moradores do Ponte: o Riacho estava sempre ali, exposto e disposto a quem quisesse nele banhar; mas nos finais de semana a cidade se quedava às suas belezas, às suas águas cristalinas, puras que até se podia bebê-la sem se correr o risco de contaminação. E bebia mesmo: naquele tempo a cidade de Caxias era abastecida, principalmente de suas águas! Suas águas eram tão saudáveis que as pessoas mais abastadas de Caxias apossaram-se de suas margens, construindo ali residências como se de veraneios, outros fixaram residência, pois o clima e a tranquilidade do lugar eram convidativos. A bacia era o ponto mais popular. Era lá que o povo se encontrava e se esbaldava. Contam que até mesmo o grande poeta Gonçalves Dias gostava de ir por lá para fumar seus cigarros, que a sociedade reprovava, e tomar algumas. Esse tempo era uma festa!
A cidade cresceu e com ela seus problemas, como é comum a tudo que se modifica. Ao redor de suas margens foram fincadas casas e com elas seus esgotos. Claro. Todo crescimento requer planejamento, cuidado, mas não foi isso que se viu ao redor do Riacho do Ponte. O que se viu foi o abandono de um manancial que ainda abastece a cidade. Por descuido ou por desamor deixaram que os esgotos inundassem suas águas que tanto nos banharam, que tanto nos refrescaram no calor. De suas matas restaram poucas árvores que alguns quintais souberam preservar, pois, ao seu redor, governantes desavisados arrancaram suas árvores e entupiram suas areias de asfalto.
O Riacho do Ponte pagou pelo progresso que não soube lhe cuidar, mais ainda resiste, ainda abastece parte dessa cidade que também chora o desamor de quem não lhe sabe amar, de quem lhe retira seus bens e suas histórias, como se quisesse apaga-la.
É preciso que a cidade veja todos os seus mananciais, pois todos estão desaparecendo para um progresso destruidor que assola essas vidas. Não se pode destruir simplesmente por não gostar! Por deszelo! As águas que banhavam essa cidade pedem socorro!
O Riacho ainda corre em seu leito, mesmo com um desaguar quase desfeito. Mas a água é forte, é potente, e carrega tudo a sua frente, brincando e alimentando o que ainda lhe resta de vida, na esperança que apareça uma corrente de pessoa que queiram ainda banhar em suas águas. Limpas, é claro.

“Jorge Bastiani ” Poeta Caxiense

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