Padre é indiciado por ameaçar e difamar secretária após fim de namoro

Pouco menos de um mês após a cúpula da Igreja Católica de Formosa (GO) ser presa por suspeita de desviar recursos da instituição, no caso investigado pela Operação Caifás, outro episódio envolvendo religiosos no Entorno do DF chama a atenção. Desta vez, um padre é acusado de agredir e ameaçar a ex-namorada.

O padre de Cristalina (GO) Jorge João da Silva, 39 anos, foi indiciado pela Polícia Civil de Goiás por difamação, ameaça e perturbação do sossego. A vítima é a secretária da Diocese de Luziânia (GO) Maria Aparecida de Oliveira, 34. Segundo a denúncia feita na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), ela passou a sofrer represálias após terminar o relacionamento de três anos com o vigário. O inquérito foi encerrado e aguarda o relatório da delegada responsável pelo caso.

Maria Aparecida não esconde o rosto, pois conta que o pior que poderia acontecer já passou: ela teve fotos íntimas impressas e espalhadas pela cidade. “Isso foi distribuído nas casas dos fiéis, dos meus pais e até no meu condomínio. Ontem mesmo (terça-feira, 3/4), deixaram seis folhas na porta da minha casa. Não respeitou nem o meu pai, que está com câncer terminal”, lamentou. Segundo a secretária, a única pessoa que teve acesso às imagens foi o vigário. “Costumávamos trocar essas fotos com o compromisso de apagar as mensagens”, completou.

A exposição foi o estopim de uma série de ameaças que a vítima alega sofrer desde 2016, quando terminou o namoro com o homem que, à época, atuava como pároco em Valparaíso de Goiás. Em entrevista ao Metrópoles, ela relatou que preferiu acabar com o relacionamento, pois entendeu que o padre não deixaria a rotina religiosa para assumir o caso entre os dois. “A vida dele é confortável e ele se gabava disso. É e sempre será mantido pela igreja. Não quis abrir mão dessas facilidades, queria continuar vivendo uma vida dupla”, disse.

Ainda segundo a mulher, ela foi agredida. “Ele já foi na minha casa, me bateu, me ameaçou com um facão”, contou. Por segurança, os filhos de Maria Aparecida tiveram que passar a morar com o pai.

Facão na igreja
Após o rompimento, a secretária narra que chegou a namorar outra pessoa, mas o padre teria interferido. Segundo o depoimento da vítima, Jorge João da Silva chamou o homem na igreja, mostrou um facão e disse que tinha um relacionamento íntimo com a namorada dele. Para comprovar o que estava falando, chegou a mostrar as mensagens trocadas pelos dois, incluindo as fotos.

“Ele me dizia que, se eu não terminasse, faria 10 mil cópias das fotografias e as espalharia por toda a cidade; e que eu e minha família sofreríamos as consequências”, lembrou. Com a ameaça, o namoro chegou ao fim. “Ele procurou a minha filha, que tinha apenas 12 anos. Mandava mensagens e foi na casa dos meus pais”, disse.

Em 2017, o padre e a secretária reataram, com o compromisso de Silva largar a batina. Como a promessa foi quebrada, após três meses, a mulher decidiu deixá-lo novamente. “Depois disso, chegaram a atear fogo ao meu carro e picharam o muro da minha casa. Perdi o pneu, perdi a parte de trás toda do carro”, contou.

O celular no qual as primeiras ameaças foram registradas foi furtado da casa dos pais da secretária. Os dois crimes ainda estão sendo investigados pela Deam.

A mulher chegou a procurar o bispo da diocese, mas ele teria respondido que se trata de uma questão particular entre ela e o padre. “Mesmo com medida protetiva expedida pela Justiça, ele continua rondando a minha casa. Não sei mais a quem recorrer. É uma pessoa que se vale da condição de padre. Sei que errei por ter me envolvido, mas ele não tem o direito de me manter presa, muito menos divulgar aquilo que é meu”, desabafou.

Procurado na Cúria Diocesana de Luziânia, que responde pelas paróquias das cidades do Entorno Sul, o bispo dom Waldemar Dalbello não atendeu à reportagem para comentar o caso. Por telefone, o diácono João Venino informou que o bispo estava em reunião e não atenderia as ligações.

Quanto a uma eventual investigação sobre a conduta do padre, o diácono da Diocese de Luziânia disse que ainda não há nada em andamento e não soube dizer se algum procedimento irá apurar o caso.

Metrópoles tentou contato com Jorge João pelo telefone e por WhatsApp, mas o padre não atendeu o celular e também não respondeu às mensagens no aplicativo.

A reportagem questionou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre os recorrentes casos de desobediência à medida protetiva por parte de Silva. No entanto, o órgão não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.

*Colaborou Fernando Caixeta

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