“Pastor 171” que aplicou golpe de R$ 10 mi fez pregação no Réveillon

Enquanto as vítimas endividadas que acusam Wallace Ovídio da Silva (foto em destaque), 33 anos, de lucrar R$ 10 milhões com golpe da pirâmide financeira não puderam comemorar o Réveillon, o empresário aproveitou a virada do ano ao lado de amigos e familiares, em Cachoeira de Macacu (RJ).

No vídeo ao qual o Metrópoles teve acesso, Wallace aparece orando e louvando ao lado da esposa, Débora Gomes. Segundo uma das vítimas do golpe, que prefere não se identificar, o homem se autointitula pastor e, inclusive, usa a religião para captar investidores para a empresa da qual é proprietário, a GrouPerformance.

O dono da empresa de investimentos localizada no estado do Rio de Janeiro é suspeito de aplicar golpes financeiros desde julho de 2021, com a promessa de que os clientes teriam rentabilidade mensal fixa. As vítimas, porém, denunciam o fato de que nunca receberam lucros das aplicações.

Segundo representação que será enviada ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a GrouPerformance age na forma de associação criminosa, com colaboradores de confiança. Os funcionários captam recursos e iludem os investidores com altos rendimentos fixos.

No texto, uma das vítimas aponta que o golpe financeiro se trata de estelionato, crime contra a economia popular e lavagem de capital. Na representação ao MPRJ, outras cinco pessoas são citadas como colaboradoras do golpe, entre elas a esposa de Wallace, Débora.

As informações apresentadas no texto mostram que o grupo captou cerca de R$ 10 milhões dos clientes em nove cidades do Brasil, a maioria delas no Rio e em São Paulo. No documento, constam 49 vítimas.

De acordo com a autora da denúncia, desde o primeiro suposto mês de rentabilidade, a empresa elenca várias desculpas para o não cumprimento do contrato. A lesada alega que Wallace ganha a confiança, tornando-se amigo do investidor, e se mostra disposto a ajudar até mesmo com problemas pessoais.

Empresas na Europa

Conforme exposto na representação, o empresário, utilizando-se de outro negócio, chamado Invest Gold Brasil Ltda., acumula dois inquéritos policiais e processos criminais referentes ao mesmo tipo de crime, cometido em São Paulo, nos quais as vítimas tentam reaver os prejuízos desde 2019.

Após a repercussão negativa, o homem teria ido com a família para Portugal, onde abriu uma empresa chamada Horizonte Mensageiro Ltda., em sociedade com a esposa, e foi denunciado por um ex-funcionário, que percebeu que a captação de clientes se tratava de golpe

Na denúncia, o até então empregado de Wallace detalhou ainda que o empresário planejava abrir uma empresa na Ilha de Malta, porém a intenção não foi consolidada.

De acordo com o texto, a esposa de Wallace, Débora Gomes, era sócia na empresa paulista, aberta em abril de 2018. A companheira também é sócia do negócio atual com sede no RJ.

Metrópoles teve acesso a algumas publicações de Débora e Wallace nas redes sociais. Veja:

De volta ao Brasil

O proprietário abriu outra firma, a GrouPerformance, no Rio de Janeiro, em julho de 2021. De acordo com a denúncia, o negócio conta com franquia em São Paulo e em Balneário Camboriú (SC).

No site, a empresa de Wallace se apresenta como meio de educação financeira. “Para nós, valores como ética, inovação, responsabilidade social, lealdade, transparência e segurança são pilares essenciais para alavancar essa revolução”, diz texto disponível na página.

Para aqueles potenciais clientes sem dinheiro para investir, a empresa estaria induzindo a solicitação de empréstimos em agências bancárias, uma vez que a rentabilidade fixa, de até 10%, “cobriria a parcela da concessão e ainda sobraria uma quantia para o cliente”.

“Pastor 171”

A fim de dar aparência de legalidade na empreitada criminosa, a representação cita que a empresa “envia e-mails, e promove palestras, reuniões e, inclusive, sorteios de prêmios valiosos, tentando passar uma imagem de grandeza, idoneidade, liquidez e licitude de suas ações”.

No Facebook de Wallace, uma suposta vítima comentou a publicação do empresário, cobrando o homem e o chamando de “Pastor 171”, referência ao artigo 171 do Código Penal. O crime citado diz respeito à obtenção para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício fraudulento.

Reprodução/Facebook

O outro lado

Procurado pela reportagem do Metrópoles, o empresário negou as acusações e disse que, em relação ao cumprimento do contrato com os clientes, “a questão já estava resolvida”.

Sobre os dois inquéritos, Wallace alegou não haver mais problemas com a Justiça. De acordo com ele, futuras manifestações serão transmitidas pelo advogado.