Homenagem a Pelé? No Brasil, é raridade e somente três estádios na elite relembram ídolos do passado

Nilton Santos, Mané Garrincha e Urbano Caldeira são os únicos ex-jogadores que batizam estádios na Série A do Brasileiro


Desde que Pelé morreu, quatro países já anunciaram a mudança do nome de um dos seus estádios para homenagear o Rei do Futebol, ideia que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, admitiu propor às 221 nações filiadas à entidade máxima do futebol para manter a memória do Atleta do Século viva para as próximas gerações.

No Brasil, também ocorreram algumas homenagens póstumas (leia mais abaixo), como nome de avenida, praça e túnel, uma coroa para representar Pelé na camisa do Santos e ser lembrado com um show de drones na praia de Santos durante o Réveillon.

Mas, em relação a estádios, não é comum no Brasil fazer tributo aos grandes nomes do passado do esporte, batizando em lembrança a eles os campos da modalidade mais popular no país.

Considerando os estádios do Campeonato Brasileiro e das primeiras divisões de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os estados com mais poderio financeiro e tradição no país, apenas três palcos têm o nome de ex-jogadores.

São o Nilton Santos (Engenhão), no Rio de Janeiro, do Botafogo; Mané Garrincha, no Distrito Federal; e Urbano Caldeira (Vila Belmiro), em Santos.

O primeiro foi lateral-esquerdo do Botafogo, bicampeão do mundo com a seleção brasileira e apelidado Enciclopédia. Garrincha, o Anjo de Pernas Tortas, foi o melhor ponta-direita do Brasil, também ídolo botafoguense e campeão mundial em 1958 e 1962.

Urbano Caldeira foi zagueiro do Santos nos primeiros anos de vida do clube. Depois virou treinador e dirigente, sendo vice-presidente em 1917 e um dos responsáveis por cuidar do estádio, que receberia seu nome quatro dias após sua morte, em 24 de março de 1933.

Mas a Vila Belmiro talvez nem receba jogos do Brasileiro deste ano porque deve ser fechada para reforma pela WTorre. Assim, o Santos deve mandar parte dos seus jogos na casa da Portuguesa, o estádio Oswaldo Teixeira Duarte (Canindé).

É apenas um dos dez da primeira divisão que prestam homenagem a dirigentes e/ou políticos, como Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi, São Paulo), Nabi Abi Chedid (Red Bull Bragantino), José Pinheiro Borda (Beira-Rio, Internacional), Raimundo Sampaio (Independência, América-MG), Joaquim Américo Guimarães (Arena da Baixada, Athletico-PR), Hailé Pinheiro (Serrinha, Goiás), Major Antônio Couto Pereira (Coritiba), Governador Magalhães Pinto (Mineirão, Cruzeiro) e Governador Plácido Castelo (Castelão, Fortaleza).

Três usam naming rights, com nomes adquiridos por empresas: Allianz Parque (Palmeiras), Neo Química Arena (Corinthians) e a futura Arena MRV (Atlético-MG), prevista para ser inaugurada em março.

Dois “homenageiam” os próprios clubes, casos de Vasco da Gama (nome oficial de São Januário) e Arena do Grêmio. Um faz referência ao Estado, caso da Arena Pantanal, do Cuiabá.

Por fim, o Maracanã, casa de Flamengo e Fluminense, cujo nome oficial é uma homenagem ao jornalista Mário Filho, que escreveu “Viagem em torno de Pelé”, em 1963, a segunda biografia do Rei do Futebol. Ele também foi irmão de Nelson Rodrigues.

Considerando os estádios dos 40 clubes das Séries B e C, há somente com homenagem ao Atleta do Século. É o Rei Pelé, em Maceió, casa do CRB e do CSA, que tem esse nome desde sua inauguração, em 25 de outubro de 1970.

A Série B ainda tem o Alfredo Jaconi, do Juventude, que homenageia o ex-jogador, técnico e dirigente do clube gaúcho. Enquanto a Série C tem o Eládio de Barros Carvalho, os Aflitos, nome do goleiro da base do Náutico e depois dirigente da equipe pernambucana.

Homenagens em divisões inferiores

Fora da elite e dos holofotes, há outras homenagens em campos de futebol do Brasil. Mas são estádios pequenos, com estrutura carente e que recebem poucos jogos por ano.

No Rio, existe Leônidas da Silva, em Bonsucesso; Mestre Ziza, em Niterói (que a torcida do Botafogo ainda chama de Caio Martins); Jair Pereira, em São Gonçalo; Romário de Souza Faria, o Marrentão, e o Mestre Telê Santana, ambos em Duque de Caxias.

Na Cidade Maravilhosa, além do já citado Nilton Santos, ainda tem o estádio Antunes, casa do CFZ e homenagem de Zico ao irmão mais velho, ex-jogador do Fluminense, e o Ronaldo Luíz Nazário da Silva, campo do São Cristóvão, antes chamado Figueira de Melo.

No Estado de São Paulo, há o Antônio Fernandes, no Guarujá, uma homenagem ao ex-jogador e técnico Antoninho, do Santos. Em Mauá, tem o Pedro Benedetti, que foi jogador do Cerâmica, time extinto da cidade. Em Santo Antônio de Posse, um campo foi batizado com o nome de José Ferreira Neto, ídolo do Corinthians, nos últimos anos.

Deixaram de existir

O Brasil já teve um estádio Edson Arantes do Nascimento, o Pelezão, em Guará, cidade-satélite do Distrito Federal. Inaugurado em 1965, ele que ganhou esse nome em 1969. Desativado nos anos 80, foi demolido em 2009. Hoje, é uma área com prédios.

No Rio, o Botafogo chegou a ter um estádio chamado Mané Garrincha, que era o antigo Marechal Hermes, em Deodoro. Hoje abriga as categorias de base do clube carioca.

Contra a lei

Um dos argumentos de dirigentes para a quase inexistência de homenagens aos ídolos do futebol é que havia uma proibição legal de nomear bem públicos com nomes de pessoas vivas. Era o primeiro artigo da lei federal 6.454, de 24 de outubro de 1977.

O artigo foi modificado em 10 de janeiro de 2013, pela presidente Dilma Rousseff, proibindo que pessoas com histórico ligado a escravatura fossem alvo de homenagens.

De qualquer forma, com lei a favor ou contra, existiram homenagens à Pelé no Brasil. A cidade de Três Corações foi pioneira a nomear como Edson Arantes do Nascimento a rua da casa onde ele nasceu, em 1966.

Em 1970, foi a vez de Salto, interior de São Paulo. Quinze anos depois, a prefeitura da cidade simplificou o nome para Rua Pelé.

O Santos deu o nome de Rei Pelé ao centro de treinamento inaugurado em 27 de fevereiro de 1996, quando o Atleta do Século até participou de um amistoso. Muitos podem argumentar que o equipamento era particular e não público, mas o nome ficou.

Já em 26 de abril de 2004 a cidade de Três Corações, berço de Pelé, renomeou o Ginásio Ailton Paranaiba Vilela para Ginásio Poliesportivo Pelezão. Foi uma batalha do artista plástico Fernando Ortiz, o mesmo que reconstruiu a casa onde o Rei nasceu.

Já em 23 de outubro passado, aniversário de 82 anos de Pelé, Ortiz conseguiu oficializar a mudança de Praça Coronel José Martins, um escravagista, para Praça Pelé, na cidade.

Após a morte do mais famoso camisa 10 do mundo, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, aprovou a mudança do nome da Avenida Radial Oeste (ao lado do Maracanã) para Rei Pelé. A cidade de Taguatinga já aprovou que o túnel da maior obra viária em andamento no Distrito Federal seja batizado como Rei Pelé quando for inaugurado, em fevereiro.

Em Salvador, no último dia 4, foi inaugurada para a população a Praça Pelé, na avenida Jorge Amado, no Imbuí, com uma área de 918 metros quadrados.

Mas entre os estádios, seguindo até as palavras do presidente da Fifa, a homenagem mais próxima deve vir de Blumenau. O Complexo Esportivo do Sesi deve passar a se chamar Rei Pelé, mas somente depois que a estrutura for comprada pela prefeitura.

Estádios pelo mundo

Desde a sugestão de Infantino, quatro estádios espalhados pelo planeta mudaram seus nomes.

Em 4 de janeiro, um dia após o sepultamento do Atleta do Século, o estádio Nacional, na cidade de Praia, em Cabo Verde, virou estádio Pelé. O estádio Manuel Calle Lomban passou a ser Bello Horizonte – Rey Pelé, em Villavicencio, na Colômbia.

Em Zurique, o campo principal da sede da Fifa na Suíça também passou por mudança. Agora é estádio Pelé-Fifa.

Já no dia 6, foi a vez da cidade de Bafatá, na Guiné-Bissau, nomear um dos campos da cidade como estádio Rei Pelé. Na última segunda-feira (9), o Pachuca instalou um trono permanente no estádio Hidalgo como homenagem a Pelé, no México.

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