MARANHÃO: A luta de profissionais para a doação de órgãos e tecidos , onde há mais de mil pessoas à espera

O Maranhã possui 1.102 pessoas estão à espera de doação de órgãos e tecidos no Maranhão. Destes, segundo a Central Estadual de Transplantes, 250 estão à espera de rim, oito à espera de doação de fígado e 844 de córnea.

Os dados apontam que ainda há muito a se fazer para se obter novos doadores, apesar de que os números de doações apresentaram um leve crescimento nos últimos anos (com exceção de córneas), em um momento ‘pós-pandemia’. Veja abaixo:Número de doações de órgãos e tecidos no Maranhão2021 e 2022Número de órgãos12122222224480807777Rim (2021)Rim (2022)Fígado (2021)Fígado (2022)Córnea (2021)Córnea (2022)020406080100Fonte: Secretaria de Estado de Saúde (SES)

Já em 2023, até o dia 21 de março, foram 44 transplantes realizados, sendo dois de rins e 41 de córnea. Inclusive, houve um leve aumento nas doações de córneas nas últimas semanas, segundo Luiza Nóvoa, que é enfermeira e trabalha no Hospital Carlos Macieira e no Hospital Universitário em busca de novos doadores.

“Nas últimas semanas, as doações [de córneas] até melhoraram com o apoio de equipes nas UPAS. Mas, precisamos reforçar esse trabalho de captação. Hospitais como Aldenora Belo e Geral, referência para câncer, estão nos ajudando muito”, contou.

Luiza Nóvoa é enfermeira, doadora de órgãos, e ajuda na captação de novos doadores no Maranhão — Foto: Arquivo pessoal

Luiza Nóvoa é enfermeira, doadora de órgãos, e ajuda na captação de novos doadores no Maranhão — Foto: Arquivo pessoal

Além de trabalhar na área, Luiza é uma doadora de órgãos, já que, há oito anos, ela doou um rim para uma amiga.

Em dezembro de 2021, Luiza perdeu a mãe, após um infarto. Porém, mesmo no momento difícil, ela lembrou que poderia ajudar outras pessoas naquela situação e fez a sua parte.

“Minha mãe faleceu em casa e quase não lembro da doação, em meio ao desespero. Mas lembrei e deu certo. Mesmo aos 72 anos, ela ajudou duas pessoas a voltar a enxergar”, conta Luiza.

Como funcionam as doações

Hospital Universitário, em São Luís, é habilitado a fazer transplantes de órgãos no Maranhão. — Foto: Reprodução/TV Mirante

Hospital Universitário, em São Luís, é habilitado a fazer transplantes de órgãos no Maranhão. — Foto: Reprodução/TV Mirante

No Maranhão, a Central Estadual de Transplantes (CET) é a unidade de saúde responsável por coordenar a coleta de doadores de órgãos em todo o estado.

No caso da doação em que o paciente é alguém falecido, o primeiro passo é abrir um protocolo de confirmação de morte encefálica ou coração parado por profissionais da Central Estadual ou da Comissão Intra-Hospitalar (CIHDOTT), após diálogo com os familiares.

Logo depois, se a família aceitar a doação, o paciente é encaminhado para uma unidade de saúde credenciada para captação. Atualmente, o Hospital Universitário e o Hospital São Domingos têm equipes credenciadas no Sistema Nacional de Transplantes.

“Aqui, na Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital São Domingos, somos uma equipe composta por enfermeiras, médico, assistente social e psicóloga. As atividades que desempenhamos são, principalmente, em relação à organização do protocolo assistencial para o diagnóstico de morte encefálica e acolhimento das famílias de pacientes falecidos, tanto dos doadores como dos não doadores, além de oferecer aos familiares destes a possibilidade da doação de órgãos e tecidos, primando, claro, pelo acolhimento e respeito a este momento tão difícil que é a perda de um ente querido”, conta Anne Caroline Aquino, enfermeira da CIHDOTT do hospital São Domingos.

Tipos de doadores de órgãos e desafios

Segundo o Ministério da Saúde, existe o doador vivo e o doador falecido. No primeiro caso, pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, contanto que este procedimento seja seguro. Um doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão.

No entanto, a maior parte dos transplantes é feita com doadores falecidos, em pacientes que tiveram morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). A morte tem que ser verificada pela equipe médica e comprovada clinicamente a partir de exames laboratoriais.

O Brasil realiza vários tipos de transplantes, como coração, fígado, pâncreas, rim, pulmão, córnea e medula óssea, mas a recusa dos familiares em aceitar a doação de um parente ainda é um grande desafio.

Doação de órgãos é capaz de transformar vidas, mas recusa familiar é um problema — Foto: Foto: Hospital São Vicente/Divulgação

Doação de órgãos é capaz de transformar vidas, mas recusa familiar é um problema — Foto: Foto: Hospital São Vicente/Divulgação

Por esse motivo, o Ministério da Saúde diz que a conversa com a família é muito importante e recomenda que se converse sobre a doação ainda em vida. Afinal, mesmo que o doador registre oficialmente sua vontade, ainda em vida, atualmente a doação só acontece com a assinatura dos familiares.

Após a doação, os órgãos são utilizados para pacientes que esperam em uma lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado. Segundo Anne Caroline, o ato de aceitar a doação nunca é fácil, mas costuma ser acalentador no momento de luto pelos familiares.

“Ser membro da CIHDOTT é uma atividade desafiadora, mas muito gratificante. Essas famílias nos conhecerão durante um dos piores momentos de suas vidas, mas a gente percebe que ao aceitar a doação e realizar esse ato de amor solidariedade às pessoas que estão há meses ou anos em uma fila de espera, muitas vezes sem perspectiva ou esperança no futuro, é um conforto ao coração de uma família devastada pela perda”, contou.