Mulher com paralisia cerebral faz tratamento para engravidar; médica explica processo

A advogada e palestrante Nathalia Blagevitch, 32 anos, decidiu recorrer aos procedimentos de reprodução assistida para se tornar uma mãe solo. Diagnosticada com paralisia cerebral, Nathalia passou por uma frustação ainda na adolescência, quando ouviu de uma ginecologista que não poderia ser mãe. 

Aos 26 anos, Nathalia começou a avaliar a possibilidade de congelar os óvulos. Na época, a advogada começou a sentir dores devido a um remédio que tomava, e foi então que soube que o medicamento prejudicava a fertilidade. “Eu liguei pra minha médica e falei: ‘Eu não quero tomar esse remédio sem antes congelar (os óvulos)'”, conta Nathalia ao Correio

No mesmo ano, Blagevitch teve nove óvulos congelados, sendo seis maduros (para mulheres abaixo dos 37 anos, é necessário cerca de quatro óvulos maduros para ter 1 blastocisto, um conjunto de estruturas embrionárias. Nas mulheres acima de 37 anos, esse número seria seis). 

Entretanto, Nathalia revela que considerou a quantidade insuficiente, já que ainda não sabia se desejava ter apenas um filho ou dois. Diante disso, ela decidiu congelar mais seis óvulos. “Hoje já tenho 12 óvulos congelados e amostra de sêmen. Eu pretendo engravidar em fevereiro de 2024”, detalha. 

Processo de fertilização

Paula Fettback, ginecologista especializada em reposição hormonal e infertilidade com ênfase em alta complexidade, conta ao Correio que nunca havia atendido um caso como o de Nathalia. “Atender uma paciente com algumas dificuldades de locomoção foi a primeira vez”. 

Antes de fazer a fertilização in vitro, as pacientes precisam passar por uma consulta médica com um especialista e fazer todos os exames solicitados. Paula recomenda que é importante fazer algumas mudanças no estilo de vida, como tomar suplemento de vitaminas e se preparar emocionalmente para o processo. 

“O processo de fertilização in vitro envolve algumas etapas. A primeira delas é a indução da ovulação, no qual a gente hiperestimula os óvulos da paciente com hormônios, que geralmente são injeções subcutâneas, as famosas injeções na barriga, por um período de mais ou menos uns 10 dias. Nesses 10 dias a paciente é submetida a alguns exames de ultrassom transvaginal para ver a evolução dos óvulos dos folículos”, explica. 

“Depois que os óvulos estão prontos, a gente programa a coleta, que é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo no qual a paciente toma uma anestesia na veia e a gente aspira através do ultrassom transvaginal os óvulos direto do ovário. Os óvulos obtidos são analisados e fertilizados in vitro com os espermatozoides”, complementa. 

Paula é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, e desde 2006, atua em Ginecologia e Obstetrícia com ênfase em Reprodução Humana e infertilidade de alta complexidade
Paula é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, e desde 2006, atua em Ginecologia e Obstetrícia com ênfase em Reprodução Humana e infertilidade de alta complexidade(foto: Arquivo pessoal)

Riscos da gravidez

Paula explica que, no caso de Nathalia, a principal dificuldade é em relação a mobilidade durante a gravidez, especialmente devido ao peso e tamanho da barriga durante a gestação. No entanto, a ginecologista ressalta que a paralisia de Nathalia não interfere fisiologicamente na gravidez e na saúde do bebê. 

“O que pode acontecer, por exemplo, é uma dificuldade devido ao peso, de locomoção, um aumento do edema e do retorno venoso, dessa forma podendo até aumentar um pouquinho o risco de um evento trombótico. Provavelmente, na gravidez dela, a gente vai usar um anticoagulante que ajuda a prevenir esses efeitos”, explica.  

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